sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Minha mãe, a Iara e eu!


Hoje, dia 14 de setembro de 2012, faz 4 anos que minha mãe nos deixou e só bem recente que eu pude, num curso de aleitamento, destravar meus nós e desencavar o meu luto.

Minha mãe sofreu uma perda enorme, assim como todos da família e aqueles que amavam meu pai. Meu pai nos foi tirado pela violência desse mundo desmedido e isso foi uma facada no coração de minha mãe, no nosso também claro, mas imagino que perder o companheiro não seja fácil, só posso falar da perda de um super pai que saiu pra trabalhar e não voltou mais. Quase 3 anos depois minha mãe, que ficou muito deprimida, teve complicações no coração e morreu. Ela morreu de amor.

Precisei de um tempo para me reposicionar no mundo e por isso fui morar em Salvador, isso que pra cabeça de muita gente foi uma loucura (afinal, larguei tudo por aqui) foi a possibilidade de me reencontrar no bolo doido dessas perdas.

Voltei quando deu o tempo de voltar e logo depois me descobri grávida. Lembro-me como se fosse hoje que logo após ver o resultado do teste de farmácia, Thiago me perguntou o que eu achava? Imediatamente respondi: Vou precisar de ajuda, eu não tenho mãe. Que me desculpem minha sogra, cunhadas, tias, mas nessa hora a gente quer mesmo são os conselhos de mãe, mesmo que seja para rejeitá-los.

Já falei aqui inumeras vezes das minhas complicações na amamentação de Iara, o que eu ainda não tinha relacionado era essa história com a perda da minha mãe. Minha mãe sempre me cobrou a vinda de um/a neto/a e nada da gente providenciar. Nos dias em que esteve internada ela me disse que estava pronta pra viver e que ainda tinha muito o que fazer, inclusive ajudar a cuidar dos netos.

Então logo que engravidei, isso me veio a cabeça. Eu não teria minha mãe para me ajudar a cuidar do meu bebê. Durante toda gravidez pensei nisso...minha mãe não estaria comigo.

Dois fatos são muito importantes para compreender o que isso tudo tem a ver com minha história de amamentação.

1- Minha mãe sempre me contou a história da nossa amamentação. Eu não aceitei o peito de forma alguma, minha mãe contava que por tempos retirou o leite com bombinha e me deu na chuquinha. Semelhança ou bloqueio psicológico meu, Iara fez exatamente a mesma coisa. Mas ai eu tive condição de insistir, informação para persistir e resolver a questão.

2 - Minha mãe trabalhava na sala de coleta da UTIN. O trabalho dela era ensinar as mães de bebês prematuros como fazer a ordenha de leite para dar aos pequeninos, ensinava e ajudava com massagens no engurjitamento (endurecimento da mama na descida do leite), ensinava armazenar o leite e fazia isso tudo com muito carinho e amor. Lembro-me dela pedindo ajuda para escrever um projeto de uma campanha com as mães para incentivar o aleitamento.

Isso posto, retomo uma história do meu encontro com Dra Samu, a coordenadora do banco de leite do hospital onde minha mãe trabalhava.

Era o nosso primeiro encontro e já se passavam 34 dias do nascimento de Iara. Ela foi sugerindo técnicas, posições, massagens, coleta e tudo o que ela falava eu retrucava com um "já fiz isso", lá pelas tantas desabei a chorar. Ela só colocou a mão no ombro e me deixou chorar. Ela suavemente me disse: "talvez faltasse isso". 

E de fato, a sábia dra Samu acertou em cheio, eu precisava mesmo era chorar, precisava destravar meu medo de falhar e de fracassar como mãe. Eu parei no fato de que eu tinha feito aquilo com minha mãe e Iara estava fazendo comigo e que minha mãe capacitada para me ajudar não estava mais ali. O luto da minha mãe não estava vivido em mim e o fato de me tornar mãe estava me deixando bloqueada.

Compreender isso, ainda que tardiamente, é importante porque tenho tranquilidade para dizer a ela (mesmo que no coração) mãe você não fracassou comigo e eu lutei e estou fazendo direitinho (como voce ensinava) com Iara.

Ao longo da vida a gente vai entendendo coisas, relacionando fatos e superando perdas. A saudade, ah essa é eterna, enquanto existir sentirei falta dos meus pais, mas eu tenho a máxima certeza que eles estariam muito orgulhosos da família que construí, da filha encantadora que tenho e sem dúvida, da mãe que me tornei e me torno a cada dia.

Longe de mim em querer ser uma mãe perfeita, não é esse meu propósito, mas eu dou o melhor de mim pra que Iara tenha em nossa casa a condição de ser uma pessoa com valores solidários e humanos. Contarei pra Iara o exemplo que tive e as pessoas maravilhoras que vovô e vovó estrelinha eram em vida.


Então mãe, muito obrigada por ter me feito assim.


2 comentários:

  1. Querida Grazzi,

    Minha mãe se foi para o plano do Orum há sete meses e, infelizmente, ainda não me desliguei da dor, mas é uma dor serena, cheia de fé. Aguardo o dia quando sentirei no coração a força dela unindo-se a outro espaço e daí ficará em mim a coragem ancestral das mães, da Yabás.
    Foram dias de muito sofrimento, mas quando vejo suas lembranças e aprendizados sei bem como é. Sou bem mais velha que vc e daí todo minuto as traquinagens, a sabedoria prática, as palavras tocam em mim.
    Ontem comprei meu primeiro carro, um carro simples, popular e fiquei imaginando ela passeando comigo e dizendo para fazermos um pique nique, ou coisa assim...
    Mães são dádivas, doçuras, encantos. Que bom que ficastes encantada também com sua sereiazinha..

    Muito axé e todas as benção das yabás do mundo pra ti!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oh Kiki, que possamos ser fortes a cada dia com as bençãos das Yabás. Axé

      Excluir